A Armênia diferentemente do vizinho ao norte, a Georgia, era um pouco menos desconhecida por devido a colônia Armênia que é bem grande no Brasil, mas mesmo assim ainda sabíamos pouco em relação a geografia e história do país. Sabíamos que o país era montanhoso e depois de percorrê-lo de norte ao sul, tivemos a certeza de que realmente montanhas não faltam por lá.
Entramos no país vindos da Georgia, por uma pequena fronteira (Bagratashen). Pedalamos no sentido Norte ao Sul, com o intuito de entrarmos no Iran, o total pedalado foi de cerca de 625 km. Não conhecíamos muita coisa sobre a geografia e pontos interessantes de visitar, então após algumas pesquisas decidimos fazer nossa rota passando pelo Lago Sevan, a capital Yerevam, o mosteiro de Khor Virap, a cidade de Goris e finalmente a cadeia de montanhas do extremo sul da Armênia.
Logo após nossa entrada, as tubulações de gás e muitas construções estilo soviético, assim como na vizinha Georgia, se mantinham. Muitas placas e paineis ainda estão escritos em Russo e Armênio.
Entramos na Armênia já com 45 km pedalados e pedalamos por mais 20 km, sempre subindo, procurando um lugar para acampar. Logo após passarmos um minúsculo vilarejo chamado Karkop, vimos uma estradinha paralela de terra e entramos por ela buscando um lugar para acampar próximo a um rio que havia por alí (Rio Debed). Passamos por um pequeno sítio e uma cachorrinha correu latindo em nossa direção e ouvimos uma voz de uma senhora gritando para a cachorrinha parar. Foi então que conhecemos os nossos vovôs armênios do dia, a Sra Amalia e seu marido (com um nome muito difícil que não conseguimos aprender) hehehe. Perguntamos onde poderíamos acampar por ali (tudo isso com mímicas, desenhos e um cartãozinho básico em todos os idiomas). Ela apontou para dentro do sítio e nos convidou para entrarmos. Na simplicidade de um vagão de trem soviético abandonado, onde viviam, dividiram conosco saborosas comidas e doces armênios que ela preparava, enquanto seu marido olhava curioso para nós e sorria. Lá dentro do vagão, um fogãozinho a lenha aquecia o ambiente e o café que ela nos preparou a tarde, a noite e no café da manhã. Montamos nossa barraca em uma área gramada próximo ao rio Debed. Nossa primeira noite na Armênia não poderia ser melhor, acolhidos por um casal tão hospitaleiro, com os quais conversávamos muito mais com olhares do que palavras.
O dia seguinte continuou montanhoso como de costume no país. Depois de um longo dia vencendo a dura altimetria armênia, avistamos do outro lado da pista um rio bonito com um lindo gramado em frente, o lugar perfeito para acampar. Atravessamos por uma pequena ponte para o outro lado e chegamos a um minúsculo vilarejo, Dzoraghet. La perguntei a um senhor se poderia acampar naquele belo parque e ele pediu que eu o acompanhasse até um luxuoso hotel que havia ao lado, o parque pertencia ao hotel. Confesso que antes de entrar no hotel achei que não nos deixariam acampar ali, afinal dois viajantes de bicicleta, montando uma barraca no jardim de um hotel super chique poderia parecer estranho, mas fui surpreendido pela hospitalidade armênia.
A recepcionista do hotel foi super atenciosa e depois de algumas ligações deu um sorriso e disse que poderíamos acampar alí, mas que infelizmente não haveria luz, o que não era nenhum problema para nós. O gerente do hotel nos acompanhou até o lugar onde poderíamos montar nossa barraca. Ficamos super felizes e agradecidos. Dormimos tranquilos em um lugar super bonito.
A beleza das paisagens ao longos das sinuosas estradas entre as montanhas nos ajudam a empurrar a bicicleta. Todos os dias, desde que entramos na Armênia, em algum momento temos que descer e empurrar a bicicleta em alguma subida muito inclinada, mas tudo faz parte desta aventura.
Apesar de períodos de sol durante o dia, o começa da primavera Armênia ainda estava bem frio. Já era final de tarde e estavamos bem cansados, foi um dia com bastante subida e as estradas estavam um pouco esburacadas, deixando tudo mais devagar. Estavamos a 1800 metros de altura e a previsão era de neve na madrugada, então precisávamos encontrar um lugar coberto para acampar.
A Armênia apresenta muitas casas fechadas e abandonadas pelos caminhos que passamos e por sorte encontramos uma destas no final deste dia, com uma sacada coberta perfeita para nos refugiarmos e montarmos nossa barraca. No comecinho da manhã, mesmo com uma neve fina e garoa caindo, estava tudo seco e rapidamente nos aprontamos para sair. Nossa barraca resiste muito bem a neve, chuvas e ventos, o maior problema é guardá-la toda molhada pela manhã.
A Armênia nos surpreendeu por várias coisas, hospitalidade do povo, natureza, belas paisagens, lindas montanhas, motoristas que dirigem sem agressividade e o que esperávamos ter deixado para trás, voltou… as nevascas.
Na Bulgaria e Turquia pegamos muito frio e neve, por alguns meses, e já estávamos cansados desta friaca toda. Na Georgia o fim do inverno nos poupou da neve e das temperaturas negativas. Mas a montanhosa Armênia nos pegou de surpresa com nevascas e temperaturas negativas novamente. Ficamos pensando, se a primavera é fria assim em terras armênias, imagine o inverno!
Depois da tempestade, vem a calmaria. O dia começou com neve leve e depois a maior nevascas nas montanhas. Mas a medida que saímos de 1800 metros e fomos a cerca de 1200 metros o tempo começou a abrir e a neve virou chuva, ainda bem gelada. Chegamos então a um pequeno e belo vilarejo de montanha chamado Dilijan, estávamos molhados, cansados e com muito frio, precisando de um lugar aquecido e um banho quente. Nestas horas acabamos fugindo um pouco do orçamento apertado, mas é bom para nossa sanidade mental. Procuramos então uma hospedagem e chegamos a um hostel muito confortável e fomos recebidos com muita hospitalidade. Já que tínhamos passado muito perrengue nos dias anteriores, nos demos de presente um jantar típico Armênio, com direito a um vinho artesanal e uma cervejinha. Depois era tentar apertar os cintos nos próximos dias e reestabelecer o orçamento.
Chegamos neste pequeno vilarejo montanhoso armênio sem imaginar o que nos esperava. Descobrimos no dia seguinte, quando acordamos e fomos dar uma volta. É um vilarejo bonito, charmoso, cercado de belas montanhas com topo nevado ao redor e além disso é a porta de entrada para um Parque Nacional, com diversas trilhas para hikking e trekking.
Depois de duas noites bem dormidas em Dilijan seguimos rumo ao lado Sevan. Este era um lugar que queríamos muito visitar na Armênia, tanto pela beleza e possibilidade de acampar, como pela importância que tem para o país.
Chegamos num final de tarde frio. O lago Sevan fica a mais de 1900 metros de altura e subimos bastante para chegar até lá, mas valeu a pena. O lugar é lindo, com muita natureza ao redor. Nesta época do ano (comecinho da primavera), fora de temporada, só havíamos nós por lá. Encontramos uma área de picnic a beira do lado e por lá ficamos acampados 2 noites. Descansamos, lemos, ajustamos a bicicleta e aproveitamos a bela paisagem. As noites foram frias, mas durante o dia o sol forte deixou o clima bem amigável.
A estrada do lago Sevan até a capital Yerevan é predominantemente uma longa descida. Apesar desta região ser a mais povoada da Armênia, os motoristas não dirigem de maneira agressiva e foi tranquila nossa entrada na cidade. Há raros “warmshowers” em Yerevam, e os que existem tem perfis um pouco “estranhos”. Tentamos também hospedagem solidária pelo “couchsurfing”, mas as respostas foram negativas. Acabamos encontrando então um hostel com preço justo no centro da cidade e nos hospedamos alguns dias por lá para conhecermos melhor a cidade. Foi um pouco difícil levar a bicicleta 4 andares acima por escadarias, mas deixaram a gente guarda-la dentro do hostel e ficamos felizes.
Yerevan, Erevan, Erevã, Ierevan, Ierevã, Erevão ou Ierevão (em arménio: Երեւան; transl.: Erevan; [jɛɾɛˈvɑn] ) é a capital e maior cidade da Armênia, além de uma das cidades mais antigas continuamente habitadas do mundo. Localizada ao longo do rio Hrazdan, Yerevan é o centro administrativo, cultural, e industrial do país. É a capital desde 1918, a décima terceira da história da Armênia, e a sétima localizada dentro ou em volta da planície de Ararat.
Devido à sua localização, Erevan foi constantemente disputada entre a Pérsia e os otomanos, tendo mudado de mãos inúmeras vezes.
Adoramos passear por esta cidade cheia de vida e história. Ainda com muitas áreas sendo reconstruídas e ficando cada vez mais bonita.
A população estimada é de cerca de 1 milhão de habitantes, aproximadamente 35% de toda população do país.
Cultura armênia, o “Kachkar”. Vimos muitos por toda a parte no país e representam algo muito típico e cultural do povo armênio. A riqueza de detalhes é bela e tudo tem um significado especial.
Um khachkar, também conhecido como cruz arménia de pedra (em arménio: խաչքար, pronúncia [χɑtʃʰˈkʰɑɾ], խաչ xačʿ “cruz” + քար kʿar “pedra”) é uma estela memorial que porta uma cruz, muitas vezes podem ter motivos adicionais como condecorações, laços e motivos botânicos. Os khachkars são característico da arte medieval cristãarménia e fazem parte do patrimônio cultural da Unesco.
A maioria dos primeiros khachkar foram levantados para “a salvação da alma tanto duma pessoa viva ou morta”. Podiam também comemorar uma vitória militar, a construção duma igreja ou como forma de protecção contra desastres naturais.
A arte de esculpir khachkars tem presenciado um renascer como símbolo da cultura arménia no século XX. Há centenas de khachkars no mundo, muitos dos quais são em memória da vítimas do chamado Genocídio Arménio.
Os primeiros khachkar verdadeiros apareceram no século IX,[1] durante o ressurgimento arménio depois da libertação do jugo árabe. O khachkar datável foi esculpido em 879 (embora menos exemplares mais rudimentares existam).
Era uma tarde linda e ensolarada na capital Armênia e saímos animados para conhecer um lugar muito importante para este povo, o “Complexo memorial do Genocídio Armênio”. Entramos conversando e curiosos no local, mas em menos de 5 minutos ficamos calados, chocados e muito tristes com as imagens, vídeos e relatos históricos que vimos lá dentro. Só conseguíamos pensar “como o ser humano consegue ser tão cruel com ele mesmo?”. Conhecemos pessoas muito boas e incríveis durante nossa viagem e não conseguimos entender como um povo pode se virar contra outro e por vezes cometer atrocidades tão desumanas. O Genocídio Armênio aniquilou cerca de 1 milhão e 500 mil pessoas, de maneira brutal. E este monumento e museu estão na colina de Tsitsernakaberd para lembrar este acontecimento tão triste e evitar que algo assim possa se repetir novamente.
O dia 24 de Abril é o dia que os Armênios no mundo todo se reunem para relembrar e homenagear as vítimas deste período tão triste na memória deste povo.
Saímos da capital em uma bela manhã ensolarada sentido um mosteiro histórico que queríamos conhecer. O mosteiro de Khor Virap (em arménio: Խոր Վիրապ, calabouço profundo) é um dos mais populares destinos turísticos na Armênia. Sua localização, junto à fronteira turca, oferece uma vista espetacular do Monte Ararate, a montanha que é o símbolo nacional da Armênia.
O mosteiro é um dos lugares mais sagrados dos armênios por ter sido aí que São Gregório Iluminador esteve preso durante 13 anos pelo rei pagão Tirídates III, que Gregório viria a converter ao cristianismo no ano de 301, tornando a Armênia a primeira nação a adotar o cristianismo como religião oficial.
A nossa ideia era acampar próximo ao mosteiro, com essa paisagem linda, mas chegamos no Domingo de Ramos e o lugar estava muito movimentado. Visitamos o mosteiro, almoçamos vendo esta bela paisagem e decidimos pedalar um pouco mais e acamparmos em um lugar mais tranquilo.
A última vez que havíamos dormido em Bombeiros foi na América do Sul e depois de tanto tempo, fomos amistosamente recebidos pelos Bombeiros na Armênia, chamados localmente de “Mes of Armenia”. Depois de uns 10 km após o Mosteiro de Khor Virap, pouco antes do vilarejo de Surenavan, passamos em frente ao uma brigada de bombeiros militares e decidi parar para perguntar se poderíamos acampar por ali. Eles foram muito hospitaleiros e além de nos permitirem acampar no estacionamento do quartel, nos ofereceram café e nos convidaram para jantarmos com eles. Eles não falavam inglês, mas com a ajuda de muitas mímicas e o tradutor do celular conseguimos conversar bastante.
No caminho entre os vilarejos de Yeraskh e Areni, vimos muitos militares e alguns “bunkers” como este ao longo da estrada. Esta estrada passa próximo ao Naquichevão e é uma fronteira fechada e ainda tensa entre os dois territórios.
Empurra…empurra… Durante nossa viagem, a Armênia é um dos países onde mais empurramos nossa bicicleta.
Escolhemos entrar no Iran pelo sul da Armênia e este é o trecho mais montanhoso do país. Ficamos sempre acima dos 1000 metros de altura, porém subindo e descendo em média de 500 a 800 metros quase todos os dias. Nossos deslocamentos diários diminuiram para uma média de 40 km por dia. Há muitos trechos com inclinações acima de 10% e aí é melhor descer e empurrar.
Apesar das dificuldades, as belas paisagens fazem valer a pena. A primavera, timidamente começou a enfeitar as paisagens armênias.
A região sul é pouco povoada e a maioria dos vilarejos são bem pequeninos. Lugares para acampar estão por todos os lados e a água é abundante e cristalina, vinda do degelo no alto das montanhas. Apesar da época ser de inicio de primavera, o clima ainda era bem frio por estes lados e com dias de neve.
Assim como seus vizinhos, é um país muito seguro e acampar selvagem é tranquilo e tolerado. Mas mesmo assim qualquer barulho próximo ativa inconcientemente o centro cerebral da vigília e nos faz despertar. As vezes o barulho mais besta e inocente faz a gente pensar mil coisas.
Uma boa tecnica para evitar isso é acampar próximo de rios, principalmente os agitados. É impressionante como o barulho da água abafa os outros ruídos, acalma e embala aquele soninho gostoso.
Neste dia, logo após a cidade de Vayk, encontramos uma cobertura em uma área de picnic ao lado do rio Arpa. Uma frente fria havia chegado e com isso chuva e frio. Foi uma boa para escapar do mal tempo.
A Armênia apresenta algumas formações rochosas bem particulares e uma delas são colunas basalticas que se agrupam de tal maneira que parecem aqueles “orgãos de igreja” e são por vezes chamados de “Sinfonia de Pedras”. Tivemos a sorte de ver uma destas formações, de origem vulcânia, enquanto pedalávamos próximo ao vilarejo de Saravan.
Depois de um longo dia de subidas para atravessar o Vorotan Pass, com seus 2344m, começamos uma descida e próximo ao vilarejo de Gorayk avistamos uma área de picnic com uma cobertura de metal. Com o clima instável das montanhas e a previsão de chuva, achamos melhor montarmos nossa barraca por ali. O céu estava aberto e com sol quando chegamos. Depois de cerca de meia hora o tempo mudou drasticamente. Começou uma ventania e o sol se foi, o céu se encheu de núvens escuras e veio a maior nevasca com raios e trovões. Tivemos que montar a barraca as pressas. Em poucos minutos a paisagem que estava toda verdinha se transformou em uma paisagem de inverno.
Antes da cidade de Goris haveria uma outra longa subida, então, próximo a cidade de Sisian, avistamos um “refúgio” de madeira ao lado de um restaurante e pedimos para dormir alí, assim nos refugiando da chuva que estava prevista, apesar do céu aberto. Com a hospitalidade natural do povo Armênio, eles nos deixaram acampar por alí. E foi ótimo pois o tempo mudou e a chuva veio a noite toda.
No dia seguinte pegamos uma neblina sinistra e temperaturas negativas nas montanhas antes da cidade de Goris. Depois de 5 noites acampando de maneira selvagem e enfrentando o clima frio e rigoroso do sul montanhoso da Armênia, estavamos precisando muito de um banho quente, uma cama e um pouquinho de conforto. Havia chegado uma frente fria por estes lados e as nevascas e temperaturas negativas não permitiam que aproveitássemos as belezas desta parte do país. Decidimos então descansar em um hostel na cidade de Goris, fugindo um pouco do frio e da neve. Ficamos 4 noites até o tempo melhorar, mesmo gastando um pouco maid que o nosso orçamento apertado, não havia outro jeito, cruzar os passos de montanha com este tempo seria arriscado e só iria gerar sofrimento. No hostel conhecemos o simpático cicloviajante espanhol (país basco) Carlos.
Quando a neve dava uma trégua, aproveitamos para conhecer a antiga cidade de Goris e nos lembrou muito a região da Capadócia, na Turquia.
A área de Goris foi estabelecida desde a Idade da Pedra. Goris foi mencionado pela primeira vez na história pelo período urartiano. O rei Rusa I de Urartu, que reinou entre 735 e 713 aC, deixou um cuneiforme, onde mencionou que entre os 23 países conquistados por ele, o país de Goristsa era um deles. Os cientistas supõem que seja o mesmo Goris. Durante a Idade Média, o assentamento da cidade estava situado na parte oriental do atual Goris, na margem esquerda do rio Goris.
O tempo melhorou depois de 4 dias parados na cidade de Goris. Chegou a hora de desbravar as belas montanhas do extremo sul da Armênia, o último trecho antes do Irã. O sol saiu com força total, deixando as paisagens do relevo montanhoso do sul da Armênia mais lindas ainda. A chegada da primavera já começou a deixar tudo verde e florido. Haviam belas paisagens depois da cidade de Goris, em uma estrada que vai margeando do Arzebaijão/ Nagorno Karabach (Artsakh), sentido sul.
Esta região do país apresentou muitas áreas de natureza com pouca interferência humana. As estradas são sinuosas e por vezes esburacadas, com subidas intermináveis e passos de montanha acima dos 2000 metros, o clima é instável e pode mudar rapidamente. Mas uma coisa para nós era certa, valeu a pena. Pedalamos um trecho com o cicloviajante Carlos, da espanha, mas logo nos distanciamos.
A última vez que havíamos visto placas avisando sobre a presença de minas terrestres foi quando passamos pela Bósnia. Aqui na Armênia precorremos uma estrada que vai margeando o Azerbaijão, mais especificamente a região fronteiriça entre a Armênia e Nagorno Karabach. Estas minas terrestres foram colocadas no período entre 1991 e 1994, na guerra de Nagorno Karabach e ainda são um transtorno nesta região. Já estavamos cansados de pedalar neste dia e haviam muitos lugares interessantes para acampar nas redondezas da rodovia, mas com essas placas, sem chances. Pedalamos então até nos afastarmos mais da região fronteiriça e encontrarmos um lugar mais seguro.
No final de tarde depois de empurrar a bicicleta em vários trechos de subida, chegamos cansados a um mini povoado, Dzorak, e lá encontramos um cantinho para passarmos a noite, que foi bem tranquila por sinal.
Mas durante o café da manhã, tivemos uma surpresa desagradável, vejam a cara de tristonho de quem quebrou uma obturação no café da manhã, acampando selvagem no interior da Armênia e vai ter que mudar os planos do dia para consertar a “cratera” que ficou no dente. A idéia seria continuar acampando selvagem, mas os planos mudaram para: Parar na cidade seguinte mais próxima (Kapan), encontrar um dentista e depois ver o que fazer.
Rumo a cidade de Kapan, finalmente um trecho de descida tranquila. Primeira parada: o primeiro dentista que encontrássemos. Continuar viagem sem resolver isso seria arriscado, imprudente e com grandes chances de começar uma dor de dente em breve, o que seria pior ainda. A Armênia é um país conhecido na região por ter bons dentistas, então vendo pelo lado positivo, se for pra dar problema dentário, melhor lá, hehehe.
Assim que entramos na cidade de Kapan fomos procurar uma clínica odontológica e perguntando em algumas farmácias, nos indicaram uma clínica próxima.
Estacionamos a bicicleta na porta e no final tudo deu certo, o dente foi bem “consertado”. O custo total ficou em cerca de 20 USD, mas como ficamos até tarde na cidade por conta disso, acabamos procurando o hotel mais baratinho possível e passamos uma noite lá.
Depois da cidade de Kapan, começamos uma longa subida que nos levaria ao último e mais alto passo de montanha do sul da Armênia, o Meghri Pass. Já havíamos nos acostumado com o sobe e desce de montanhas desta parte do país, e com a melhora do tempo podíamos aproveitar melhor o dia e as lindas paisagens.
Por toda a parte na Armênia é comum encontrar construções com estilo arquitetônico soviético, muitas delas abandonadas. Na cidade de Kajaran fomos procurar o hotel mais barato da cidade para descansarmos uma noite antes de enfrentar um dura subida para cruzar o passo de montanha mais alto por estes lados. Depois de perguntarmos na polícia, eles nos indicaram este hotel, bem no estilão soviético, com muitas coisas escritas em russo ainda. A noite a temperatura caiu para -2C, a calefação antiga do prédio não funcionava mais e um senhor encarregado pelo local nos forneceu um aquecedor para colocarmos no quarto.
Gostamos deste aviso que vimos nas montanhas de Kajaran, pena que foi a primeira vez depois de tanto tempo na Armênia. O país, assim como seus vizinhos, apresenta uma quantidade enorme de lixo espalhada ao longo das estradas e em áreas de picnic, principalmente plásticos. É muito triste ver um país com paisagens tão belas, poluídas por uma quantidade enorme de lixo.
Vencer o último passo de montanha do sul da Armênia foi um desafio para nós. Subimos de 1700m (Kajaran) a 2535m (Meghri Pass) em meros 10 km, que não pareciam muitos mas levamos 4 horas para fazer. Conseguimos pedalar apenas cerca de 2 km do total e o restante empurramos montanha acima. Muitos trechos com atimetria de 12% ou superior em uma estrada super tortuosa, mas muito bonita. As belas paisagens e a longa descida de 30 km que veio depois valeram toda a pena.
Últimos dias armênios. Chegando a pequenina cidade de Meghri, depois de uma longa e deliciosa descida em meio a belas montanhas e campos esverdeados pela primavera, optamos por ficar em uma guest house, antes de entrarmos no Iran. A casa assim como outras no vilarejo era bem típica com os “telhados” de folhas de uvas nas garagens e as paredes das casa em pedra. Gostamos muito de ter passado nossos dois últimos dias de Armênia nesse pequenino vilarejo. Tudo muito tranquilo, vida típica do interior da Armênia, com suas casas com pés de uva, romãs e figos, paredes de pedras, belas montanhas ao redor, povo hospitaleiro com olhar curioso e muitos carros Lada pelas ruas, hehehe. Neste vilarejo tomamos nosso último vinho (que ganhamos do dono da guest-house onde estávamos) por alguns meses que seguiriam.
Ficamos quase 1 mês cruzando o território armênio de norte a sul, enfrentando duras, porém belas montanhas, por vezes com nevascas e clima bem frio pelo caminho. Mas tivemos belos dias de sol e o mais legal, conhecemos muitas pessoas boas e hospitaleiras, aprendemos um pouco mais sobre a cultura e os costumes deste povo e gostamos muito da experiência que tivemos neste milenar país, foi tudo muito intenso em todos os sentidos.
“Shnorhakalutyun Hayastan”.
Viajei com vocês..lindo..sei que foi doída as subidinhas..mas lugares assim nunca se esquece. Kkkkk como eu na Cuesta de Lipan….
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A gente sofre mas a gente gosta né hahahaha
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