O Irã é um país enorme e percorrer longas distâncias de bicicleta por ele com o visto de turismo de apenas 30 dias é bem difícil, por isso renovamos nosso visto na cidade de Hamedan. Com mais 30 dias chegamos tranquilamente na cidade de Isfahan, conforme contamos no Trecho 2.
Isfahan foi a cidade que mais gostamos no Irã, ela tem seu charme e lugares muito interessantes para visitar. É conhecida como uma cidade romântica e concordamos com isso. Durante o dia apresenta muitos lugares bonitos para visitar e a noite a centenária ponte Sio Se, iluminada atravessando o rio Zayandeh apresenta um charme todo especial. Visitamos o bairro armênio, o centro histórico e alguns parques também. Chegamos na cidade nos dias de comemoração do final do Ramadan e os lugares estavam movimentados, mas entrar na cidade de bicicleta foi tranquilo e algumas ruas menores e arborizadas nos protegeram do sol forte. Muitas belezas, bazares, história e riqueza cultural reunidas em uma cidade.
Si-o-se Pol, também conhecida como Ponte dos 33 Arcos ou como Ponte Allah-Verdi Khan, é uma das onze pontes que cruzam a cidade de Esfahan, no Irã. Foi erguida no ano de 1602 durante o reinado do xá Abbas I.
Considerada um dos principais símbolos da Dinastia dos Safávidas (1502-1722), a ponte passa pelo Rio Zayandeh, servindo de represa para o rio que corta a cidade. Abriga uma renomada e muito conhecida casa de chá em seu interior. É uma das atrações turísticas mais conhecidas e tradicionais da região, principalmente à noite, quando fica iluminada.
A ponte tem 295 metros de comprimento por 13,4 m de largura e é formada por duas fileiras de 33 arcos, construídos em pedra e ladrilhos.
Levamos um notebook conosco na viagem, esta meio detonado e com a tela quebrada, mas segue suprindo nossas necessidades. Em isfahan ele começou a “morrer”, parou de carregar a bateria. Buscando um lugar para consertá-lo, fomos sortudos em encontrar uma loja enorme que reparava todos os tipos de computadores. O dono da loja foi muito marcante em nossa passagem por Isfahan, ele representava totalmente a hospitalidade iraniana. Bem humorado e muito atencioso, ele consertou nosso computador, ofereceu almoço para nós, nos levou de carro para resolvermos algumas pendências e ainda explicou várias coisas sobre seu país, tudo isso de forma muito espontânea e natural. Mais uma das pessoas incríveis que gravam momentos especiais em nossa memória e nos fazem pensar muitas coisas.
Demos entrada no nosso visto do Turcomenistão em Tehran para pegá-lo em Mashhad. De Isfahan, onde fomos pedalando desde que entramos no país até Mashhad seriam aproximadamente mais 1200 km, ou seja, mais 1 mês pedalando e não tínhamos este tempo no nosso visto renovado. Além disso, esta região entre as duas cidades é a porção de deserto do centro do Irã, o que não teria muitos atrativos e pontos de parada. Devido a tudo isso, desmontamos a bicicleta, embalamos as coisas e compramos passagens de ônibus de Isfahan a Mashhad (tentamos o trem mas não havia mais cabines). O ônibus é chamado V.I.P. bus, mas será que é mesmo??
As propagandas dos ônibus noturnos V.I.P. no Iran mostram ônibus bonitos, tudo novinho e relatos maravilhosos, mas no nosso caso, assim com com outros cicloviajantes que encontramos, não foi bem assim. Com a economia detonada, o Iran esta com muitas coisas com preços bons, incluindo os transportes, porém com qualidade questionável.
Chegamos com 2 horas de antecedência na rodoviária e fomos até o ônibus do empresa Royal Safar Iran. Chegando lá, o funcionário encarregado de colocar as malas no ônibus olhou com cara feia quando viu a bicicleta e resmungou o tempo todo. O ônibus estava cheio e lotado de bagagens, então a única maneira foi colocar a “Minhoca”, nossa amada bicicleta no teto do ônibus. Que dor no coração que deu nessa hora. Além disso o motorista do ônibus cobrou cerca de 8 dolares para levar a bicicleta. Entramos no ônibus e vimos que ele não era muito V.I.P. como tentam vender nas propagandas. As poltronas não reclinavam muito, tudo estava um pouco velho e o ônibus não tem banheiro. Cerca de 1 hora depois da saída é servido uma marmita até que saborosa de jantar e pronto, começa um filme iraniano bem velho na TV do ônibus, que só é desligada quase meia noite. O motorista fumava dentro do ônibus e ouvia musicas no rádio, empatia zero com os passageiros. Finalmente depois de 16horas sacudindo e dormindo mal, chegamos a Mashhad. Tiraram a “Minhoca” do teto do ônibus. Para nossa alegria, chegamos todos são e salvos. De V.I.P., apenas o nome. Conversamos com outros cicloviajantes que tiveram experiências boas e tranquilas, outros um pouco desastrosas e outros dos quais a bicicleta caiu do teto do ônibus inclusive.
Portanto a dica é não esperar muito das companhias, ter paciência e aceitar que talvez terá que pagar alguma “taxa de transporte”, com a possibilidade da bicicleta ir amarrada ao teto do ônibus se o bagageiro estiver muito cheio.
Depois de remontarmos a bicicleta ali na rodoviária de Mashhad mesmo, seguimos pedalando até a casa dos nossos anfitriões, warmshowers. O plano era seguir pedalando os poucos cerca de 180 km até a fronteira com Turcomenistão, e seguir desbravando este novo país que nos esperava e doa qual não tínhamos nem ideia de como seria.
Há alguns meses estávamos seguindo e trocando mensagens com os cicloviajantes iranianos Ehsan e Shima. Eles viajaram o Irã durante 8 meses com o pequenino e gracioso Arsalan, o bebezinho deles. Uma viagem cheia de aventuras e lindas histórias e queríamos muito conhecê-los pessoalmente. Mais uma vez tivemos muita sorte, quando estávamos indo para a cidade de Mashhad eles estavam lá e nos hospedaram por três noites. Foi incrível, eles tem muita vivência do Iran, histórias divertidas e são muito animados. Nos sentimos parte da família com eles. Eles são muito atuantes no cicloturismo e cicloativismo no país e adoramos conhecê-los pessoalmente. Quem quiser acompanhar a aventura deles pelo Irã, vale muito a pena (@ourlifecycle3).
Em Mashhad pegamos o visto do próximo país depois do Iran. Para nós, o “desconhecido” Turcomenistão. Demos entrada na embaixada em Tehran e pegamos no consulado em Mashhad, telefonamos alguns dias antes e quando soubemos que nosso visto foi aprovado seguimos o plano e compramos a passagem de ônibus para Mashhad (a aprovação parece funcionar como “roleta” e os requisitos para ser aprovado ou não são desconhecidos. Sorte talvez?). Nosso plano B caso não fosse aprovado seria pegar um transporte até o Azerbaijão e então seguirmos de Ferry Boat até o Cazaquistão, entrando por aí na Ásia Central.
A cidade é uma das mais sagradas para a comunidade xiita muçulmana. Ali se encontra a tumba do imã al-Rida (765-c.818), um dos sucessores legítimos do profeta Maomé, segundo os xiitas. Um mausoléu foi construído para o imã e reconstruído várias vezes ao longo dos séculos. Cerca de 20 milhões de turistas visitam o mausoléu de al-Rida anualmente.
Em 30 de outubro de 2009 (aniversário da morte do Imã Reza), o então presidente Mahmoud Ahmadinejad declarou Mashhad como a “capital espiritual do Irã”. Nós fomos visitar a Mesquita e é realmente muito bonita, principalmente a noite. A Flavinha teve que se cobrir toda com o Chadôr para entrar. Ficamos uns 15 minutos lá dentro, sentados vendo a movimentação e ouvindo as rezas.
Depois de Mashhad começou o nosso último trecho pedalando no Irã. Cerca de 180 km nos separavam da fronteira com o Turcomenistão. Como não se pode entrar antes do dia que consta no visto, fomos com calma, afinal de contas no Turcomenistão o rítmo seria muito mais frenético. Depois de cerca de 60km, próximos a um pequeno vilarejo chamado Abravan, avistamos uma mesquita e fomos até lá perguntar se poderíamos dormir por alí. Fomos recebidos pelo simpático Sr Abdullah, que acostumado a receber cicloviajantes que vão sentido Turcomenistão, nos ofereceu uma salinha reservada para passarmos a noite e o melhor, com ventilador, afinal o calor estava com força total.
Depois de uma subida, vem a descida para saborearmos. As estradas iam ficando cada vez em menores altitudes, o calor aumentava e a paisagem mais desértica conforme nos aproximávamos do Turcomenistão.
Há certos dias onde buscamos privacidade, pois estamos cansados e queremos dormir sem barulhos, ou não queremos falar com ninguém ou simplesmente não estamos de bom humor. Pouco antes da cidade de Sarakhs, completamos 19000 km pedalados e buscamos um lugar quieto e isolado para acamparmos, evitando ao máximo curiosos. Queríamos ficar somente nós dois alí, sem visitas. Quando a estrada estava sem carros, rapidamente empurramos a bicicleta para o meio de algumas dunas, onde carros ou motos dificilmente chegariam, nos afastamos da estrada e nos escondemos em meio a algumas pequenas colinas, lá, fora do ângulo de visão da estrada e escondidos, passamos um final de tarde tranquilo e uma noite silenciosa com um céu estrelado. Para dizer que ninguém nos achou, pela manhã, antes de desmontarmos a barraca havia uma aranha que teceu sua teia do lado de fora.
Usar véu não estava sendo fácil para a Flavinha com o calor que estava fazendo no Irã com a proximidade do verão. Este foi o último dia de pedal com véu no Irã. Chegamos a cidade de Sarakhs, na fronteira com o Turcomenistão, no meio da tarde. Fazia muito sol e calor e a Fla estava toda suada e já cansada de ter que pedalar toda coberta.
O Irã sem sombra de dúvidas foi um país muito intenso para nós em todos os sentidos. Muitas coisas diferentes, choque cultural e muito aprendizado. Infelizmente o país está passando por um mal momento político-econômico e com quase dois meses percorrendo o país e tendo muito contato com as pessoas, pudemos sentir e vivenciar as alegrias e tristezas do povo iraniano. Conhecemos pessoas incríveis neste país, hospitaleiras e bondosas. Visitamos lugares bonitos, dançamos, comemos comidas diferentes para nosso paladar e aprendemos muito nestes quase dois meses no país. As diferenças culturais também testaram nossa paciência algumas vezes e nos fizeram repensar muitas coisas. Neste dia encerramos o ciclo em terras persas e nos preparamos para uma maratona de cruzar em no máximo 5 dias aproximadamente 500 km no Turcomenistão, outro país totalmente desconhecido por nós.
“Khoda Hafez Iran”… desejamos um futuro mais feliz para este país cheio de pessoas bondosas.
Sempre com vcs em meu coração 😘
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