A Albânia era um país bem desconhecido por nós. Ficou muitas décadas sob um regime ditatorial muito fechado, que acabou isolando o país do resto do mundo e trazendo prejuízos sócio-econômicos que perduram até hoje. Gostamos bastante de pedalar por aqui, foi um um lugar que nos surpreendeu em vários sentidos, bons e ruins.
Cruzamos o país de Norte a Sul, predominantemente pela porção mais costeira. Foram cerca de 470 km de aventura por estradas por vezes ruins, belas paisagens, belas praias, trânsito bagunçado nas cidades e conhecendo pessoas amigáveis.
Entramos na Albânia pelo caminho que vai ao lago Shkoder. O idioma mudou completamente em relação aos vizinhos eslavos. Se antes não entendíamos nada, piorou mais ainda. O idioma albanes é bem complexo e difícil, estamos evoluindo no nosso nível de mímicas durante a viagem, hehehe.
Os preços na Albania são melhores para o nosso orçamento apertado, então pudemos pagar por campings de vez em quando, principalmente quando o lugar é lindo ao lado do lago de Shkoder, nossa primeira parada em território Albanês. O preço foi de 10€ para os dois, com energia eletrica, wifi, cadeiras a beira do lago, banheiros super legais e um visual incrível. Ficamos por 2 noites nesta camping, descansando, curtindo o lugar e planejando nossa rota pelo país.
Escútare ou Escodra (em italiano: Lago di Scutari; em sérvio: Скадарско језеро; transl.: Skadarsko jezero: em albanês: Liqeni i Shkodrës), é o maior lago dos Bálcãs, localizado na fronteira Albânia-Montenegro. Tem este nome em função da cidade de Shkoder localizada no norte da Albânia. Sua superfície, situada apenas a seis metros acima do nível do mar, pode variar entre 370 e 530 km², dos quais 2/3 estão em território montenegrino. Ele está localizado numa depressão abastecida pelas águas do rio Moraca. O lago deságua no mar Adriático através do rio Bojana. A parte montenegrina do lago e suas redondezas foram declaradas parque nacional em 1983.
O transito por lá não é tão perigoso, mas grande parte dos motoristas são bem barbeiros, então sempre que possível buscávamos as vias menores e aí a qualidade das estradas pode ficar bem ruim, mas preferimos dividir as estradas com cabras e ovelhas do que com motoristas muito doidos, hehehe.
Seguindo rumo a capital Tirana, fizemos uma paradinha em uma praia no litoral norte do país. A praia era tranquila. Em comparação com o litoral sul do país, as praias da porção norte e central tem a água e areia mais escuras e infelizmente muito lixo espalhado nas redondezas. Ficamos novamente em um pequeno camping por uma noite, com preço semelhante.
A coisa que mais nos chocou neste país de pessoas tão hospitaleiras e belas praias foi o lixo. É impressionante e triste a quantidade de lixo espalhado por todo o país, ao redor de rios, estradas, ruas, casas, parques e praias. Muitas vezes passámos por lugares que seriam muito mais lindos sem tanto lixo jogado. Esperamos que com o tempo e recuperação da economia do país, o governo tente fazer alguma coisa a respeito.
Seguimos depois sentido Tirana, a capital do país. Sempre evitamos as highways, mas as vezes não ha outra opção. O mais estranho foi que vimos os sinais de “proibido bicicletas” e fomos perguntar aos locais antes de entrar na via e todos diziam algo do tipo: “Que nada! Pode ir de bicicleta tranquilo, eu sempre vou de bicicleta por ela”. Bom, pegamos a highway e apesar do alto movimento, havia um pequeno acostamente de terra e os veículos não se incomodavam com nossa presença ali, muitos cumprimentavam e os carros e caminhões se afastavam. Durante o percurso vimos outras bicicletas, tratores, pedestres e até rebanhos de ovelhas cruzando a via.
Apesar do trânsito bagunçado no país, não o achamos agressivo e logo chegamos ao nosso destino na capital. Adoramos nossa barraca de camping, mas sentimos falta de uma casa de verdade durante a viagem. Na capital não conseguimos warmshowers ou couchsurfing. As hospedagens tem preços muito melhores que o resto da Europa e como ficamos apenas 2 noites, nos presenteamos com uma acomodação em um Bed and Breakfast bem aconchegante, o preço era bom pois ficava um pouco longe do centro da cidade, mas caminhar não é problema depois de uma noite em uma cama de verdade 😊.
A cidade tem lugares interessantes para se conhecer e é rica em história, em um país tão milenar, com uma língua única, que não se perdeu mesmo após tantos povos que passaram por aqui e tentaram dominar sem sucesso. Ficamos apenas 2 noites, mas foi o suficiente para conhecer boa parte do pequeno centro histórico, museu e alguns pontos turísticos.
Esta estátua ao lado da bandeira da Albânia no centro de Tirana representa um heroi nacional de tempos antigos. Este cavaleiro barbudo colocou o império turco otomano para correr depois de séculos de dominação, segundo nos contaram por aqui. O nome dele é Skënderbeu e esta presente em diversas ruas e praças.
Por ordem do chefe do governo comunista que operou durante décadas na Albânia, foram construídos diversos bunkers como este para proteger o país de possíveis invasores. Eles nunca foram utilizados. Após a queda do governo ditatorial eles foram abandonados. De norte a sul do país encontramos vários destes, principalmente em áreas costeiras e de montanha.
De Tirana seguimos sentido Dürres, no litoral, porém sabendo que se tratava de uma cidade grande e um pouco desorganizado, preferímos não ficarmos por lá e seguimos um pouco mais adiante, procurando uma praia tranquila para acamparmos.
O relevo albanês é montanhoso e mesmo na região costeira nada é facil para quem esta de bicicleta. Olhando a foto acima dá para ter uma idéia do sobe e desce para chegar nas praias do outro lado.
Praias vazias, bonitas e tranquilas são abundantes pela Albânia fora de temporada. Podemos dizer que é um paraíso para os cicloviajantes, as praias estão com raríssimos turistas e muito tranquilas para acampar livremente. Durante a temporada de verão estas praias ficam lotadas, mas com o começo do outono, ainda há sol, calor e o movimento de pessoas cai quase para zero. Os comércios também estão fechados e as vezes os lugares parecem pequenas vilas fantasmas. Um pouco depois de Dürres chegamos a praia Gjeneralit e passamos uma tarde e noite com ela todinha somente para nós. A subida depois de uma noite nesse mar azul lá embaixo foi dura, mas valeu a pena. O sul da Albânia tem cada penhasco para chegar nas praias.
O dia seguinte continuou com calor e sol. Próximos a cidade de Lushnjë, já era final de tarde e vimos ao lado de um posto de gasolina uma plantação de oliveiras bem aconchegante para colocarmos nossa barraca. Entrei no posto de gasolina e conheci o dono do posto e da plantação de azeitonas, o simpático e hospitaleiro senho Begaj, que além de nos deixar acampar em sua plantação de azeitonas, ainda nos convidou para um jantar.
Continuamos próximos a região costeira e depois de atravessarmos umas montanhas chegamos ao pequeno vilarejo de Nartë, pois queríamos acampar perto a praia. A praia estava deserta e avistamos apenas um bar aberto no litoral. Lá conhecemos o Gári e sua família, que nos ofereceu uma dose de grappa produzida por ele mesmo, boa conversa e nos disse que era tranquilo acamparmos abaixo de algumas árvores em frente ao bar. A praia era tão boa que ficamos 2 dias por alí para descansarmos as pernas. Antes de seguirmos viagem ainda aproveitamos para visitar um Monastério secular que fica em uma pequena ilha lá pertinho, onde é possivel chegar por uma bela ponte de madeira.
O litoral Albanês é lindo, mas duro, pois é montanhoso e com longas subidas. Para chegar a praia de Dhërmi é necessário atravessar um longo trecho montanhoso bem inclinado e então decidimos dividir o percurso em 2 dias. Depois de subir uma parte do trecho acampamos ao lado de um barzinho na beira da pista, em uma área gramada. No final da tarde fomos surpreendidos por uma turma de vacas com sinos no pescoço passando ao lado da barraca.
O dia seguinte foi difícil, com uma longa subida de 12 km e ganho de mais de 1000 metros de altura, conhecemos 2 francesas muito divertidas, a Gigi e Roro. Fizemos uma paradinha para lancharmos já no topo, pois na hora da descida elas viraram um risco e não as vimos mais.
Depois de cerca de 3 horas e meia pedalando e empurrando a bicicleta chegamos ao topo da montanha que estava nos separando de um belo litoral. Depois de tudo isso, foi uma delícia descer estes 20 km com uma bela paisagem ao redor e ainda tomar um banho naquele mar azul quando chegamos lá embaixo. Acampamos na praia de Dhërmi, com um lindo céu estrelado antes de dormirmos.
Começamos a diminuir a quilometragem diária para aproveitarmos melhor as praias, não chegando tão tarde nelas, umas vez que as estradas continuavam o maior sobe e desce. Nossa meta neste dia era chegar a praia de Borsh, pois já havíamos lido na internet que se tratava de uma das praias mais bonitas do país e quando chegamos lá foi algo surpreendente. A praia é linda , com um mar muito azul. Conseguimos ainda nadar um pouquinho enquanto havia sol, pois no final da tarde começou a ventar bastante e chover um pouco. Colocamos nossa barraca estrategicamente embaixo de uma cobertura feita com bambu e palha, abandonada e prendi minha rede em outra cobertura ao lado, para curtir um pouco aquele belo visual antes de entrar na barraca.
A manhã seguinte estava sem vento ou chuva, um pouco nublada apenas, o que facilitou para desmontarmos acampamento e guardarmos tudo. Seguimos sentido sul buscando outra praia bonita para acampar. Na maioria das vezes não vamos margeando as praias pois o litoral é montanhoso, então olhamos no mapa onde estão saídas para possíveis praias e quando chegamos por lá, deixamos a bike em cima e eu desço para dar uma olhada antes de levarmos tudo morro abaixo.
Em uma destas descidas para avaliar as praias, encontrei uma paradisíaca e bem tranquila, a praia do Monastério (Plazhi i Manastirit). Chegamos no final de tarde, o lugar era lindo, aproveitamos para tomar um banho de mar e montarmos acampamento. Logo veio uma chuva e enquanto estavamos dentro da barraca nos preparando para cozinharmos algo, ouvimos um chamado do lado de fora. Era o Freddi, o dono de um bar localizado nesta praia. Ele veio com um enorme prato de espagueti aos frutos do mar para nós jantarmos, “Esta chovendo, fica difícil de vocês cozinharem algo, então eu fiz minha janta e aproveitei e fiz um pouco mais para vocês”. Agradecemos muito e mal acreditando, comemos todo aquele prato enorme e delicioso. No outro dia pela manhã, vieram a nossa barraca um simpático casal de franceses, Anne e Maurice, que haviam chegado de motor home na noite anterior e pernoitaram na praia também. “Vocês querem tomar café da manhã conosco?”. Novamente agradecemos muito de coração e tomamos um delicioso café da manhã com este casal tão agradável. Tem umas coisas que acontecem durante a viagem que não sabemos explicar.
Como queríamos curtir mais as praias tão lindas por alí, pedalamos mais uns 10 km apenas e paramos na pequena cidade litorânea de Ksamil. Esta, mais turísticas, apresentava diversos campings e então escolhemos um destes para passarmos a noite, ficou cerca de 10 Euros para os dois, com wifi e ducha quente. O camping ficava ao lado de praias muito lindas de águas cristalinas e aproveitamos bem o dia, tentando em vão tirar nossos bronzeados de ciclo viajantes, hehehe.
Ksamil foi nossa última parada antes de cruzarmos a fronteira com a Grécia. Acordamos cedo e antes de sairmos da Albânia passamos em um parque nacional muito interessante que tem no extremo sul do país.
A milenar Butrint ou Butroto (em albanês: Butrint ou Butrinti) foi uma cidade da Grécia Antiga, posteriormente romana, e é atualmente um sítio arqueológicona Albânia, situado no distrito de Sarandë, Condado de Vlorë, perto da fronteira com a Grécia. Em 1992 o sítio foi incluído na lista do Património Mundial da UNESCO. As ruínas, escavadas após a Segunda Guerra Mundial, incluem um anfiteatro, banhos públicos romanos, uma capela do século V, uma basílica do século VI, uma porta da cidade (chamada “Porta do Leão”), e um castelo medieval veneziano do século XIV, hoje usado como museu.
Este foi o último lugar que visitamos na Albânia logo antes de deixarmos este país, que apesar da economia abalada e ainda muito por fazer em relação ao lixo, tem paisagens lindas, belas praias, muita história e pessoas de bom coração.