Entramos na Croácia vindos da Eslovênia por uma fronteira pequena, próxima a cidade croata de Rupa. Como sabíamos que este país apresenta um belo litoral, paisagens montanhosas no interior e belos parques, tentamos aproveitar um pouco de tudo nos poucos cerca de 200 km que percorremos dentro do território croata até cruzarmos a fronteira com a Bósnia e Herzegovina.
Cruzando a fronteira entre a Eslovênia e a Croácia, algumas coisas burocráticas já mudaram, saímos da Zona de Schengen no dia 59 (temos 90 em 180 dias para ficarmos em países deste tratado [Clique aqui para ir ao site oficial]), saímos da zona do Euro e trocamos o dinheiro pela Kuna (moeda croata nesta data).
Nossa idéia era pouco depois que cruzássemos a fronteira, procurar algum lugar na zona rural para acamparmos. Mas começou uma longa descida e na empolgação fomos aproveitando a paisagem e o ventinho no rosto, deixando vários lugares bons para acampar selvagem e quando nos demos conta já estávamos dentro da cidade litorânea de Rijeka, que é grande e sem chances de acampar selvagem. Descobrimos que havia um camping na beira do mar e fomos. O lugar estava lotado. A área para barracas a maior bagunça e como queríamos um lugar tranquilo para passar a noite, preferímos nos enfiar em meio aos motor homes, onde estava um pessoal mais família e uns velhinhos, hehehe. O visual não era lindo, mas a noite foi silenciosa.
No dia seguinte preparamos nosso café da manhã e partimos sentido Kraljevica, onde havia um casal de amigos que nos convidou para ficarmos alguns dias lá com eles. O litoral da Croácia é muito bonito, as estradas costumam ficar mais ao alto, o que significa que para chegar aos vilarejos praianos temos que encarar uma descida e depois uma subida íngrime para voltar, mas vale a pena o banho no mar, ainda mais no verão.
Chegamos no vilarejo costeiro de Kraljevica. A muito tempo tínhamos prevista essa parada para visitar este casal de amigos que mora em um veleiro atracado nesta região da Croácia. Enquanto esperamos eles chegarem, tomamos uma cervejinha gelada pra comemorar.
Passamos alguns dias embarcados no veleiro La Sirena, dos nossos amigos Lars e Gabi Drihaus ( ela, brasileira e ele, holandês). Além de matar as saudades destes amigos tão queridos, os dias foram muito bons na companhia deles. Passeamos, nadamos, preparamos refeições juntos e demos muitas risadas. Adoramos a experiência de dormir em um veleiro e aprender um pouco sobre isto. Eles estão preparando uma longa viagem neste veleiro e desejamos sucesso.
Durante nossa estadia de alguns dias no veleiro conhecemos um senhor croata já aposentado e nossa vivência com ele nos deixou pensativos a respeito de algumas coisas na vida. O senhor “Tony” já na sua sétima década de vida era conhecido dos nossos amigos e como estávamos por lá e o encontramos um dia na rua, eles o convidaram para tomar umas cervejinhas conosco no barco. Depois desta primeira visita o Sr. Tony passou a vir todos os dias e as vezes mais de uma vez ao dia. Ele contou sua história, sempre foi marinheiro e passava meses sem ver a família, quando o conhecemos ele nos contou estar se sentindo muito sozinho, pois sua mulher havia falecido a alguns anos e os filhos raramente o visitavam. Sentimos que possivelmente éramos neste momento um dos raros amigos dele e ele se apegou muito, principalmente ao nosso casal de amigos. Em um dos dias, depois de algumas cervejinhas ele chegou a nos contar que já pensou em acabar com sua vida pois se sentia muito só, o que nos deixou preocupados. Nosso convívio com este solitário idoso nos fez pensar em como é importante o círculo de pessoas ao redor, amigos e familiares, principalmente na velhice e como isso fica cada vez mais díficil com o passar dos anos. Nossos amigos ainda mantem amizade com ele, mas eles também tem seus compromissos. Esperamos que o velho Sr. Tony fique bem.
Seguimos então pelo recortado e montanhoso litoral croata. Passamos por belas pequenas cidades, o calor de verão estava forte, mas nada que uma parada estratégica em uma pequena praia pelo caminho não ajudasse a resolver.
Na cidade litorânea de Crikvenica, Croatia, paramos para uma pausa de almoço e para tirar umas fotos do centro. Conhecemos um casal de turistas suiços que acharam nossa história muito interessante e nos presentearam com Kunas Croatas ($$), que se transformaram em um almoço muito gostoso e sorvetes. É interessante como durante nossa viagem algumas pessoas acham muito legal o que estamos fazendo, se identificam conosco e querem ajudar de alguma forma. Confesso que no primeiro momento ficamos acanhados em aceitar, mas depois de uma boa conversa, sempre acabamos aceitando as ajudas.
Nossa última noite no litoral croata passamos acampados em uma pequena praia próxima a localidade de Sibinj Krmpotski. O litoral desta região é bem montanhoso e as praias bem rochosas. Por sorte tivemos um lindo final de tarde neste lugar tão bonito. Depois deste dia começamos a entrar cada vez mais no continente sentido Bosnia e Herzegovina e passar por estas praias foi muito bom para recarregar as energias para as subidas que viriam pela frente.
Esta região de países eslavos dos Balkans é bem montanhosa e subir do litoral para o interior do continente foi sofrido. Após a cidade de Senj começamos a entrar para o continente, após poucos quilômetros o mar ainda estáva visível e já havíamos subido uns 400 metros de altura. De repente o tempo mudou e começou a maior tempestade, com muitos raios, como na Eslovênia. O pneu furar já é chato, em uma bicicleta tandem carregada pior ainda e quando esta chovendo com muitos raios e relâmpagos, na subida, em uma estrada de ripio então nem se fala, mas aconteceu e por sorte conseguimos resolver e continuar fugindo da chuva.
Assim como na vizinha Eslovênia, a legislação Croata proibe o camping selvagem, mas em áreas pouco turísticas é bem tranquilo acampar livre. Na região de Otočac, perguntamos ao lado de uma represa se poderíamos acampar por alí e a resposta foi que sim. Como o responsável pelas terras não falava inglês e nós não falamos croata, mostramos um cartão que levamos em vários idiomas pedindo para acampar. Foi um lugar bem tranquilo.
Seguindo sentido um parque nacional croata que queríamos conhecer, eis que nos deparamos com esta plaquinha na beira da estrada, era bom demais pra ser verdade. Sim, o verdadeiro free camp. Logo antes do pequeno vilarejo de Vrhovine, os donos de uma propriedade a beira da estrada deixam o jardim para pessoas acamparem. Há um banheiro químico, não há água ou luz elétrica, mas a grama é bem cortadinha e com várias árvores frutíferas ao redor. Existe um mural com recados de pessoas que passaram por alí e um cofrinho para quem quiser deixar sua doação para manter este local. Ficamos por duas noites, esperando o tempo ficar bom para visitarmos o parque nacional de Plivitce, que foi nossa próxima parada depois deste local.
Em dias chuvosos levamos conosco baralho e dados, que nos ajudam a nos divertir e passar o tempo, principalmente em dias chuvosos, onde as vezes ficamos “presos” na barraca.
Já mais próximos a fronteira com a Bósnia, casas abandonadas, com as paredes marcadas por tiros ou destruídas vão ficando mais comuns. Sinais de uma guerra que ainda é muito recente na memória das pessoas por aqui.
Escolhemos estradas pequenas e menos movimentadas e neste dia para chegarmos ao Parque Nacional de Plivitce, seguimos o GPS e paramos numa trilha super off road no meio da floresta. O dia estava chuvoso e frio, a Flavinha estava morrendo de medo dos ursos e a trilha acabou passando por dentro do parque em uma área onde não se pode entrar, mas já estavamos por lá e fomos até o final. Havia trechos onde a trilha estava muito fechada, com árvores caídas e muito mato. Acho que não passava alguém por alí a muito tempo, talvez alguns ursos apenas hehehehe.
Depois de um dificil e molhado dia pedalando por trilhas, encontramos um camping próximo ao Parque Nacional Plivitce, Bear camping. Um banho quente e uma garrafa de vinho nos ajudou a relaxar no final do dia.
O Parque Nacional dos Lagos de Plitvice (Plitivicka Jazera, em croata), com 300km2 de área, foi fundado em 1949 e, trinta anos depois, em 1979, entrou para a lista da Unesco de Patrimônios Naturais da Humanidade. São 16 lagos nos mais diferentes tons de azul e verde, conectados por cachoeiras de todos os tamanhos, divididos em dois grupos: lagos superiores (12 lagos) e lagos inferiores (4 lagos). Os passeios são feitos pelas passarelas que cruzam os lagos, nos caminhos de terra que ficas nas margens e uma parte em barco. Este parque estava na nossa lista de desejos na Croácia, uma vez tentamos visitar parques nacionais pelos países por onde passamos. Mesmo com preços bem salgados para visitar, temos um dinheiro guardado justamente para estas visitas turísticas e fomos conhecer este lugar lindíssimo. Passamos um dia inteiro em meio a natureza, lagos e cachoeiras. O único ponto negativo é que durante a temporada tudo fica bem cheio de pessoas por todos os lados, mas adoramos.
A região dos Balkans é montanhosa, sofremos nas subidas mas nas descidas a “minhoca” quase decola. Nos despedimos da Croácia e entramos na Bósnia com uma longa descida logo antes da fronteira e felizes com nossas aventuras por este país de belas praias, paisagens montanhosas de tirar o fôlego e um lindo parque nacional.
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